terça-feira, 24 de setembro de 2013

Aécio Neves fala com orgulho sobre Tancredo Neves


O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, em entrevista à revista Veja, relembrou com carinho os passos de seu avô, Tancredo Neves, e falou de suas lembranças pessoais no período entre a eleição e a morte  dessa grande figura da história da política brasileira.

 “Olhando para trás, é difícil acreditar que tantas mudanças tenham ocorrido em tão pouco tempo, somente dois anos: 1984 e 1985. Tive o privilégio de, ainda muito jovem, com 24 anos, acompanhar de perto aquele período decisivo na vida de nosso país, e de, com ele, aprender várias lições - uma, especialmente importante: a de que cada geração tem seu compromisso com a história. Por isso, é necessário que os líderes estejam sempre à altura dos desafios de seu tempo”, declarou Aécio, que ressaltou nomes como o de Tancredo e o de Ulysses Guimarães como um bom exemplo disso.

Em seu passeio pelo tempo, o tucano relembrou a intensidade vivida nos dias de campanha de seu avô, as viagens pelo Brasil, os comícios das Diretas, a frustração, na época, pela não aprovação da emenda Dante de Oliveira e os dias que se seguiram à renúncia de Tancredo ao governo de Minas.

Aécio relatou que após essa renuncia, se mudou com o avô para um apartamento na quadra 206 Sul, em Brasília. Lá, ele pode presenciar a inesquecível articulação política que conseguiu vencer vinte anos de vontade.

Foi um trabalho de artífice, minuciosamente planejado por grandes brasileiros para que a mobilização nacional daqueles dias pudesse garantir, de alguma forma, aquele que era nosso maior objetivo: o fim do autoritarismo. Nosso reencontro com a liberdade e a democracia. Trabalho que culminou no lançamento de Tancredo como candidato das oposições à Presidência da República e em sua vitória no Colégio Eleitoral. Três meses depois, ele morreria. Apenas três meses”, lamentou o neto de Tancredo.

O tucano, classificou a vitória de seu avô no Colégio Eleitoral como fruto de uma bem-sucedida estratégia, conduzida por diversos e diferentes atores, unidos pelo objetivo de pôr fim à ditadura. Segundo o líder nacional do partido tucano, faziam parte dessa estratégia a decisiva mobilização popular e uma paciente costura de bastidores.

O 15 de janeiro de 1985 amanheceu diferente em todo o país. Carros buzinavam em todas as cidades, bandeiras ocupavam ruas. À noite, no Rock in Rio, Cazuza embrulhou-se na bandeira brasileira, saudou a democracia recém-conquistada e cantou Pro Dia Nascer Feliz. Para grande parte das pessoas, a transição democrática terminava ali, com a eleição de Tancredo. Mas,  (...)sabíamos que não era o fim do processo. Ainda existiam focos de resistência no regime militar.”

Mediante este cenário, Tancredo foi aconselhado a ser prudente e manter a vigilância. Ele viajou ao exterior para encontrar-se com chefes de estado e tentar tornar o processo de redemocratização brasileira irreversível. Voltou para o Brasil e se mudou, com Aécio, para a Granja do Riacho Fundo, onde continuaram trabalhando a consolidação da democracia.

Tancredo sabia que repousava sobre seus ombros a responsabilidade pela transição democrática. Tinha consciência de que o país caminhava em terreno ainda frágil. Temia especialmente que a percepção sobre alguns problemas de saúde que estavam surgindo pudesse, naquele momento, servir como pretexto para as forças políticas que buscavam o retrocesso. Ele não podia correr riscos”, relembrou Aécio.
Aécio lastima-se pelo fato de o avô não ter tomado posse. Tancredo passou mal às vésperas de seu empossamento, no dia 14 de março.


Sentei-me a seu lado na cama e estávamos sozinhos, quando ele me olhou com intensidade e disse: “Chame o Zé Hugo (José Hugo Castelo Branco, que teria sido seu ministro da Casa Civil) e peça a ele que traga os atos de nomeação do ministério”. Sugeri que deixasse para o dia seguinte. Ele insistiu. (...) Com muita dificuldade, as mãos trêmulas, assinou um a um e mandou que fossem imediatamente publicados. No dia seguinte, quando ficou claro que ele não tomaria posse, ainda teria havido tentativas de criar dificuldades para a posse do vice, José Sarney. Tarde demais, o Brasil já contava com um novo ministro do Exército, que detinha o controle da tropa e era leal ao novo governo democrático. Os médicos chegaram e nos informaram que Tancredo precisaria ser internado e operado imediatamente. Sugerimos que fosse levado a São Paulo. Eles nos disseram que não se responsabilizariam e que não o acompanhariam na viagem. Ao entrar no hospital, ele se dirigiu a seu filho, meu tio, Tancredo Augusto e disse: “Fiquem atentos. Lembrem-se do que aconteceu com Juscelino e Jango”. No hospital, sua única preocupação era o país. Ciente da grande frustração popular e das dificuldades que José Sarney poderia estar enfrentando, ditou-me uma carta para ser encaminhada ao presidente em exercício e que pudesse ajudar a legitimá-lo, naquele momento, no exercício da Presidência da República. Foi o último documento que ele assinou”, disse Aécio, que concluiu o a entrevista com a seguinte frase: “Três décadas depois da morte de Vargas, uma outra multidão, em torno de um outro caixão, velaria o corpo de um outro presidente. E que, por amor ao Brasil, ele também deixaria a vida para entrar na história”. 

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